Projeto implanta sistema de filtragem de água para melhorar desempenho de estudantes no Marajó
Em fase piloto, iniciativa instalou filtros e purificadores de água em seis de dez escolas municipais contempladas
Uma pesquisa realizada com mais de 200 adolescentes em Breves, no arquipélago do Marajó (PA), em 2024, revelou uma dura realidade: a violência sexual e física está associada ao sofrimento emocional e a sintomas de depressão entre os jovens da região.
O estudo, coordenado por Rodrigo Arruda, do Núcleo de Impacto do Instituto Mondó, embasou um artigo científico que foi apresentado durante a III Conferência Internacional de Políticas Públicas e Ciências dos Dados, realizada de 19 a 21 de maio deste ano, na Universidade de Aveiro, em Portugal.
A pesquisa traçou o perfil de adolescentes com idade média de 13,8 anos (variando entre 11 e 20 anos), revelando um recorte diverso em termos de identidade de gênero — 50,5% se identificam como meninos, 47,3% como meninas e 2,2% com outras identidades. Quanto à cor/raça, 67% se autodeclaram pardos, 16% pretos e 12% brancos.
No que diz respeito ao local de residência, 52% vivem em áreas urbanas, enquanto 28% estão em comunidades ribeirinhas. As condições de vida também foram mapeadas: em média, seis pessoas dividem a mesma casa, e 22% enfrentam insegurança alimentar.
Os dados gerados pela pesquisa foram essenciais para a criação do PROA – Programa de Orientação e Acolhimento, uma iniciativa do Instituto Mondó que capacita profissionais das escolas públicas para atuarem na promoção da saúde mental e no enfrentamento da violência nas comunidades atendidas, com ações desenvolvidas a partir das escolas municipais.
O programa está sendo executado em parceria com a Fundação José Luiz Setúbal, com prazo inicial de três anos.
“Parte essencial do projeto, que é o diagnóstico, foi elaborada com a coleta de informações obtidas por meio de entrevistas com estudantes da rede pública de ensino, o principal público-alvo do programa. Eles nos apresentaram a uma realidade preocupante: a média do score de depressão entre adolescentes que sofreram agressão foi de 10,31 (classificada como moderada), enquanto os que não sofreram tiveram média de 5,97 (tida como depressão leve) — uma diferença estatisticamente significante”, explica Rodrigo Arruda.
Os números apresentados por Rodrigo se respaldam na ferramenta PHQ-9 (Patient Health Questionnaire-9), que é amplamente utilizada por profissionais de saúde, como médicos e psicólogos para avaliar a presença e gravidade dos sintomas de depressão com base nos critérios do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM).
O PHQ-9 apresenta nove questões cujas respostas, depois de somadas, indicam o grau de depressão em uma escala que vai de 0 a 27.
Nesse cenário, o diagnóstico apontou que 62,8% dos adolescentes sofriam algum grau de depressão, da leve (30,4% dos jovens), moderada (16,2%), moderadamente grave (12%) até a depressão grave (em 4,2%). Além disso, os dados expõem ainda que 14,4% dos jovens relataram ter sofrido assédio sexual e 17,8% foram alvo de racismo.
Quase 60% dos adolescentes afirmou, ainda, que ter vivenciado eventos climáticos extremos, como secas e enchentes, afetou diretamente a saúde mental deles.
Carolina Maciel, diretora executiva, e Rodrigo Arruda, coordenador do Núcleo de Impacto da Rede Mondó na Universidade de Aveiros, Portugal, onde apresentaram o estudo | Foto: Arquivo Pessoal
“Esses achados confirmam que experiências de violência física e sexual não apenas aumentam o risco de sofrimento emocional, mas também revelam a urgência de políticas públicas voltadas à prevenção da violência e ao cuidado com a saúde mental de adolescentes, especialmente em regiões marcadas por vulnerabilidade social, como o arquipélago do Marajó”, ressalta Rodrigo.
Um dos espaços para identificar e acolher os jovens é, justamente, a escola, conforme explica a psicóloga Camila Souza, que integra o Instituto Mondó. “Crianças e adolescentes compartilham muito das suas experiências de vida no cotidiano das aulas. O PROA age diretamente para que o ambiente escolar possa ser uma referência para esses meninos e meninas se sentirem seguros e protegidos”, explica.
O projeto vem atuando em escolas públicas de Breves, capacitando, desde o início de 2025, cerca de 160 profissionais da educação, saúde e assistência social, criando uma rede de escuta qualificada. Esse trabalho está sendo realizado em parceria com a Associação pela Saúde Emocional (ASEC+).
Segundo Camila, apesar de existirem serviços como o CAPS e o Hospital Regional, a demanda por atendimento psicológico em Breves é muito maior do que a capacidade instalada – por isso, há a necessidade de ampliar a rede de profissionais qualificados.
Embora o foco inicial do Instituto Mondó seja o desenvolvimento territorial a partir da escola, os altos índices de suicídio e automutilação entre crianças e adolescentes revelaram uma correlação direta com a violência sexual, tornando o combate a esse tipo de violência uma prioridade da organização.
“No Marajó, onde a vulnerabilidade das famílias é profunda, não é possível promover educação sem garantir proteção. Combater a exploração sexual infantil se tornou, assim, parte inseparável do compromisso do Instituto Mondó com o futuro das crianças e adolescentes da região”, destaca Júlia Jungmann, diretora de relações institucionais do Instituto.
Por isso, antes de desenvolver o PROA, o Instituto Mondó já participava ativamente de instâncias como o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, o Comitê de Gestão Colegiada da Rede de Proteção Social de Crianças e Adolescentes Vítimas ou Testemunhas de Violência, e a REPI – Rede Estadual da Primeira Infância.
Referência no combate à exploração sexual infantil na Amazônia, irmã Marie Henriqueta Cavalcante, do Instituto Dom Azcona, parceiro do Mondó, acredita os dados produzidos são fundamentais para desconstruir estigmas históricos que pesam sobre o Marajó e para construir políticas públicas realmente eficazes.
“Lamentavelmente, uma das grandes cobranças que eu faço é termos dados qualificados e quantificados. Essa questão dos estigmas é histórica e as pessoas os usam como justificativa para a manutenção do crime. Se não avançarmos nas políticas públicas, não vamos superar essa questão de maneira nenhuma”, afirma.
Henriqueta defende a articulação entre organizações como estratégia fundamental para romper com o ciclo de projetos pontuais e resultados frágeis. “A forma como nós podemos superar isso é unindo forças. Trabalhar de forma isolada não adianta. É preciso que as organizações e projetos sociais que atuam no Marajó se articulem de maneira permanente”, reforça.
Ao ser apresentado em uma conferência internacional, o diagnóstico desenvolvido do Instituto Mondó coloca a realidade do Marajó no centro de debates globais sobre saúde mental, políticas públicas e desenvolvimento sustentável. Segundo Rodrigo Arruda, a proposta é abrir portas para novos estudos e colaborações internacionais que tragam impactos concretos à vida de crianças e adolescentes marajoaras.
“O Instituto Mondó tem se dedicado a entender profundamente o território e as realidades vividas pelas famílias em Marajó, o que confere uma perspectiva única e significativa para os debates globais. Esse conhecimento é essencial para construir políticas adequadas à realidade local”, afirma.
Em ano de preparação para a COP30, que será realizada em Belém, o trabalho do Instituto Mondó se torna ainda mais relevante como exemplo de atuação territorial comprometida, que alia conhecimento técnico, sensibilidade social e articulação política para transformar realidades historicamente invisibilizadas.
Assessoria de Imprensa/ Maré Comunicação
Em fase piloto, iniciativa instalou filtros e purificadores de água em seis de dez escolas municipais contempladas
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